Meditação diária

6 DE DEZEMBRO

51. SÃO NICOLAU DE BARI

Memória

– Os santos, amigos de Deus, são nossos intercessores diante dEle. São Nicolau.

– Necessidade dos bens materiais.

– Generosidade e desprendimento dos bens. Recorrer a São Nicolau nas necessidades econômicas.

São Nicolau de Bari nasceu em Patarra, por volta do ano 270. Foi bispo de Mira na Lícia (atualmente Turquia), e morreu entre os anos 345 e 352 no dia 6 de dezembro. O seu culto estendeu-se pelo Oriente e mais tarde pelo Ocidente, principalmente depois do traslado das suas relíquias para Bari (Itália) no século XI. São numerosas as igrejas e imagens que lhe estão dedicadas.

I. LEMOS NO ANTIGO TESTAMENTO que, quando o Senhor se dispunha a destruir Sodoma e Gomorra para castigar os pecados cometidos pelos habitantes dessas cidades, Abraão intercedeu diante dEle: Se houver cinqüenta justos na cidade, perecerão todos junto, e não perdoarás aquele lugar em atenção aos cinqüenta justos, se aí os houver? […] E o Senhor disse-lhe: Se eu achar no meio da cidade de Sodoma cinqüenta justos, perdoarei toda a cidade por amor deles. Mas Abraão insistiu, cheio de confiança: E se nela houver quarenta justos, que farás tu?… E se ali forem achados vinte?… E se se acharem dez? E o Senhor disse: Não a destruirei por amor dos dez1. A resposta do Senhor é sempre misericordiosa.

Moisés também recorria à misericórdia divina invocando os que tinham sido amigos de Deus: Lembra-te de Abraão, de Isaac e de Israel, teus servos2. De Jeremias, já falecido, lê-se: Este é o amigo dos seus irmãos e do povo de Israel, profeta de Deus, que ora muito pelo povo e por toda a cidade santa3. No Evangelho, vemos como um centurião envia a Jesus uns anciãos, amigos do Senhor, para que intercedam por ele. E eles, tendo ido ter com Jesus, pediam-lhe instantemente, dizendo: Ele merece que lhe faças esta graça porque é amigo da nossa nação e até nos edificou a sinagoga4. E Jesus atendeu ao pedido daquele centurião. O próprio São Paulo pedia aos cristãos de Roma: Rogo-vos, pois, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito Santo, que me ajudeis com as vossas orações…5 E São Jerônimo comenta ao falar dos irmãos já falecidos: “Se os Apóstolos e mártires, quando ainda estavam no corpo e tinham motivos para se preocuparem consigo próprios, oravam pelos outros, quanto mais depois de terem recebido a coroa, a vitória e o triunfo!”6

A Igreja sempre ensinou que os santos que gozam da bem-aventurança, bem como as benditas almas do purgatório, são nossos grandes aliados e intercessores. Eles atendem às nossas preces e as apresentam ao Senhor, com o aval dos méritos que adquiriram nesta terra com a sua vida santa.

De São Nicolau, cuja festa celebramos hoje, conta-se que foi muito generoso nesta terra com a fortuna que herdou de seus pais quando era ainda muito novo. Por isso é considerado intercessor nas necessidades materiais e econômicas.

O Fundador do Opus Dei tinha uma grande devoção por esse Santo e conta que um dia, esmagado sob o peso dos problemas econômicos, lembrou-se de invocá-lo momentos antes de começar a celebração da Santa Missa. Fez-lhe a seguinte promessa, ainda na sacristia: “Se me tiras deste aperto, nomeio-te Intercessor”. Mas ao subir os degraus do altar, arrependeu-se de ter estabelecido condições e disse-lhe: “E se não me tiras, nomeio-te na mesma”. Resolveram-se aquelas dificuldades e ele passou a recorrer à intercessão do Santo em muitas outras ocasiões7.

Muitas pessoas ao longo dos séculos têm recorrido a São Nicolau em face de situações econômicas difíceis na família, no trabalho, nas obras apostólicas, que freqüentemente devem ter também uma base econômica. Não tenhamos receio de pedir ao Senhor essas ajudas materiais que Ele mesmo nos convida a solicitar quando recitamos o Pai-nosso: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. E muitas vezes podemos pedi-lo através dos santos.

II. ENQUANTO ESTIVERMOS na terra, necessitaremos de meios materiais e humanos, tanto para sustentarmos a nossa família como para levarmos avante as tarefas apostólicas que o Senhor quer que promovamos ou auxiliemos de algum modo. Os bens econômicos são isso: bens; convertem-se em males quando não servem para fazer o bem, quando sentimos por eles um apego desordenado que nos impede de ver os bens sobrenaturais. São Leão Magno ensina que Deus não nos deixou apenas os bens espirituais, mas também os corporais8, para que os orientemos para o bem humano e sobrenatural dos outros.

O próprio Jesus ensinou aos Apóstolos a necessidade de empregar meios humanos. Na primeira missão apostólica, indicou-lhes expressamente: Não leveis bolsa nem alforje… Deixa-os sem apoio material algum, para que vejam que é Ele, Jesus, quem dá a eficácia. Compreenderam então que as curas, as conversões, os milagres não eram devidos às suas qualidades humanas, mas ao poder de Deus. No entanto, quando estiver prestes a partir, completará aquele primeiro ensinamento: Mas agora quem tem bolsa, tome-a, e também alforje9. Ainda que os meios sobrenaturais sejam os principais em todo o apostolado, o Senhor quer que utilizemos todos os meios humanos ao nosso alcance, como se não existisse nenhum meio sobrenatural; os econômicos também.

O próprio Jesus, para realizar a sua missão divina, quis servir-se freqüentemente de meios terrenos: de uns pães e peixes, de um pouco de barro, da ajuda material de umas piedosas mulheres que o seguiam…

Quando nos virmos sem recursos ou com recursos insuficientes na família, nas obras apostólicas com as quais colaboramos, etc., não duvidemos em recorrer ao Senhor. Não podemos esquecer que o seu primeiro milagre, por intercessão de Nossa Senhora, foi realizado para tirar uns recém-casados de uma situação constrangedora, que aliás não era de importância vital. Ele não deixará de atender-nos. Mas não nos devemos esquecer também de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, como os servos das bodas de Caná, que encheram as vasilhas de água até à borda10.

Algumas vezes, em situações econômicas difíceis, a meditação desse episódio evangélico pode trazer paz às nossas almas: “Encontro-me numa situação econômica tão apertada como nunca. Não perco a paz. Tenho absoluta certeza de que Deus, meu Pai, resolverá todo este assunto de uma vez.

“Quero, Senhor, abandonar o cuidado de todas as minhas coisas nas tuas mãos generosas. A nossa Mãe – a tua Mãe! –, a estas horas, como em Caná, já fez soar aos teus ouvidos: – Não têm!… Eu creio em Ti, espero em Ti, amo-Te, Jesus: para mim, nada; para eles”11.

III. PODE HAVER OCASIÕES na nossa vida em que o Senhor nos anime a ser generosos, contribuindo com os nossos meios econômicos para a sustentação da Igreja ou de instituições que promovam obras de educação ou de assistência aos mais desamparados. Também é possível que, além disso, assumamos a responsabilidade de arrecadar fundos para essas obras. Muitas páginas do Novo Testamento nos mostram o empenho com que os discípulos de Cristo e os primeiros cristãos se esforçaram por encontrar meios para expandir o Evangelho. Vemos, por exemplo, como Mateus, que tinha uma boa posição econômica, é generoso com Cristo12. E aquele grupo de mulheres que segue Jesus e o assiste com os seus bens13. E esses outros discípulos – pessoas abastadas –, como José de Arimatéia, que cede o seu sepulcro ao Mestre e custeia o seu sudário14, ou Nicodemos, que compra uma grande quantidade de mirra e aloés para embalsamar o corpo do Senhor15. E o heróico comportamento dos primeiros cristãos: Todos os que possuíam campos ou casas, vendendo-os, traziam o preço do que vendiam e depunham-no aos pés dos Apóstolos16.

São Paulo organizará coletas – em Antioquia, na Galácia, na Macedônia, na Grécia – para socorrer os fiéis de Jerusalém, provocando a emulação de uns e outros17. Quando escreve aos cristãos de Corinto, agradece-lhes a generosidade com que levaram a cabo a coleta, anima-os nos seus propósitos e diz-lhes: Isto é útil para vós18. E São Tomás, comentando essas palavras, ressalta o proveito que se tira do desprendimento dos bens em favor dos outros: “O bem da piedade é mais útil para quem o exerce do que para quem o recebe. Porque quem o exerce tira dali um proveito espiritual, ao passo que quem o recebe obtém apenas um bem temporal”19. A esmola que damos é um dos principais remédios para curar as feridas da nossa alma, que são os pecados20, e nunca deixa de atrair a misericórdia divina.

A par, portanto, da nossa generosidade pessoal, devemos fomentar nos nossos amigos essa mesma disposição de alma, que alcançará do Senhor tantas bênçãos para eles e para as suas famílias. “Eis uma tarefa urgente: sacudir a consciência dos que crêem – fazer uma leva de homens de boa vontade –, com o fim de que cooperem e proporcionem os instrumentos materiais necessários para trabalhar com as almas”21. Para terminarmos, pode servir-nos esta frase que nos anima ao esforço, à generosidade e ao desprendimento: “Pensai: quanto vos custa – também economicamente – ser cristãos?”22

São Nicolau será nosso aliado no Céu no esforço por sermos generosos com Deus e com os nossos irmãos, e por procurarmos obter esses meios econômicos necessários na terra. Recorramos a ele. Está perto de Deus e continua a ser generoso com os que o invocam.

(1) Cfr. Gên 18, 24-32; (2) Êx 32, 13; (3) 2 Mac 15, 14; (4) cfr. Lc 7, 1-10; (5) Rom 15, 30; (6) São Jerônimo, Contra Vigilantium, 1, 6; (7) cfr. A. Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, Quadrante, págs. 155, 161, 256, 270; (8) São Leão Magno, Homilias, 10, 1; (9) Lc 22, 36; (10) Jo 2, 7; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Forja, n. 807; (12) Mt 9, 9-10; (13) Lc 8, 3; (14) Mt 15, 46; (15) Jo 19, 39; (16) At 4, 34-35; (17) 2 Cor 8, 8; (18) 2 Cor 8, 10; (19) São Tomás, Comentário à Segunda Carta aos Coríntios; (20) cfr. Catecismo Romano, IV, 14, 23; (21) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 24; (22) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 126.